O Vaticano divulgou neste sábado (18) uma mensagem destinada “às famílias do mundo todo” como resultado do Sínodo dos Bispos, reunião com cardeais convocada pelo Papa Francisco.
Do G1, em São Paulo, em 18/10/2014
O texto denuncia as “inúmeras crises matrimoniais” e “eventos dramáticos” que elas sofreram, mas não menciona o casamento homossexual – assunto que divide os participantes.
O "Relatio Synodi", como é chamado o documento final, foi concluído após duas semanas de estudos dos problemas da família moderna em todos os continentes, com o objetivo de tentar abrir a Igreja às uniões livres, aos divorciados e aos homossexuais, embora estes dois últimos temas tenham gerado reticências. No total, 183 padres sinodais participaram da votação, e cada ponto dos 62 parágrafos do documento foi submetido a votação.
Três pontos não tiveram a maioria de dois terços necessária, o da homossexualidade e o acesso à comunhão para os divorciados que tornam a se casar, informou o Vaticano. Toda a documentação, tanto os rascunhos quanto as correções, foi divulgada pelo Vaticano.
Havia expectativa de uma abertura à união de casais do mesmo sexo, já que no começo desta semana, os primeiros rascunhos deste documento indicavam uma grande mudança de tom sobre a participação dos gays na igreja. Um texto afirmava que os homossexuais têm “dons e qualidades a oferecer” e indagou se o catolicismo pode aceitar os gays e reconhecer aspectos positivos de casais do mesmo sexo.
"O Papa pediu que fosse publicado tudo, com total transparência, o que mostra um alto grau de maturidade", disse Manuel Dorantes, um dos porta-vozes. O texto será divulgado em todas as dioceses do mundo, juntamente com um questionário, e servirá de base para o próximo sínodo, programado para outubro de 2015. "Temos um ano para amadurecer", afirmou o Papa, que elogiou o vigor dos debates. "Se não tivesse havido discussões acaloradas, teria ficado preocupado", comentou, diante dos bispos
Crise no casamento tem destaque
O texto destaca o “grande desafio da fidelidade no amor conjugal”, provocado “pelo enfraquecimento da fé e dos valores, pelo individualismo, pelo empobrecimento das relações, pelo estresse que impede a reflexão”. “Vemos inúmeras crises matrimoniais, enfrentadas de maneira rápida, sem a coragem da paciência, da reflexão, do perdão mútuo, da reconciliação e até do sacrifício”, diz o material.Redigido em um estilo simples, o texto refere-se “ao consolo e à exortação, à sombra e às luzes”, resumiu o cardeal Gianfranco Ravasi, presidente da Comissão para a Mensagem. “Nós refletimos sobre o acompanhamento pastoral e a questão do acesso aos sacramentos das pessoas divorciadas que voltaram a se casar”, indica a mensagem.
Papa Francisco com outros sacerdotes durante a abertura da reunião final do Sínodo dos Bispos, neste sábado (18), no Vaticano (Foto: Andrew Medichini/AP) |
Uma imagem é usada como símbolo do lar familiar, “a luz que brilha durante a noite por trás das janelas das residências modestas das periferias ou dos barracos”.
Refletindo a postura do Papa Francisco, o relatório final condena “o fetichismo do dinheiro” e menciona “as famílias pobres que se amontoam em um barco ou emigram pelos desertos”, “as mulheres submetidas à exploração”, “as crianças e as jovens vítimas de abusos” em suas próprias casas.
Em uma oração final, os bispos fazem referência ao direito a uma “casa para se viver em paz” e a um trabalho para “poder ganhar o pão com as próprias mãos”.