Para segurar o aumento de preços, o próximo governante precisará
adotar medidas recessivas, acreditam especialistas ouvidos pela Agência Brasil.
De acordo com eles, a redução do controle sobre preços administrados
(como tarifas públicas e combustíveis nas refinarias) terá impacto
temporário na inflação em 2015. Dessa forma, o Banco Central deve manter
os juros altos, e o governo vai ter de cortar gastos públicos, o que
pode impedir a retomada do crescimento da economia no próximo ano.
“O
próximo presidente terá de adotar medidas fortes em 2015, para que a
economia volte aos trilhos. Algumas serão impopulares, mas todas são
necessárias para recuperar a credibilidade dos investidores na economia
brasileira, o que vai destravar o crescimento mais tarde”, diz a
professora de economia Virene Matesco, da Fundação Getulio Vargas (FGV).
Além
disso, serão necessárias reformas estruturais, acreditam os economistas
ouvidos pela reportagem. “Para as expectativas melhorarem de forma
definitiva e o crescimento ser sustentável, o ideal seriam reformas
estruturais, como a redução da carga tributária e a melhoria da
infraestrutura”, destaca Virene.
O coordenador do curso de
economia do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec), Márcio
Salvato, considera inevitável a tomada de medidas recessivas no próximo
ano. “Não espero que a taxa de crescimento se recupere em 2015. As
medidas são como um remédio amargo, com efeitos colaterais em um
primeiro momento, mas que curam o doente depois”, alega.
O
aumento de tarifas em 2015 é praticamente dado como certo pelos
economistas porque muitos preços de empresas que prestam serviços
públicos ficaram represados nos últimos anos. Além disso, a Petrobras
será cada vez mais pressionada a aumentar o preço da gasolina e do
diesel por causa do endividamento com a exploração da área pré-sal.
“Esse
realinhamento de preços poderá ser mais gradual ou mais intenso.
Dependerá do interesse do próximo governo em resolver o problema porque
quando se segura um preço, todo o sistema de preços fica distorcido”,
acredita Virene. “Haverá repique na inflação, mas será momentâneo. Não é
uma situação que vai se perpetuar.”
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Para
impedir que a alta das tarifas contamine os demais preços da economia,
declaram os especialistas, o próximo governo terá de agir tanto na
política monetária quanto na fiscal. Primeiramente, o Banco Central terá
de manter os juros altos e tomar medidas de regulação que restrinjam o
acesso ao crédito, como o aumento do compulsório, parcela que os bancos
não podem emprestar.
“Não creio que o Banco Central reduza os
juros em 2015. Os juros vão ser mantidos elevados no primeiro semestre.
Se o governo arrumar a casa, pode ser que venha uma queda no segundo
semestre, mas nada que impulsione o crescimento”, acredita Salvato.
Para
Virene, aumentos de juros poderão ser evitados se a autoridade
monetária reverter parte das medidas regulatórias de expansão do crédito
tomadas nos últimos anos. “Não adianta aumentar juros de um lado e
liberar crédito do outro porque isso anula a eficácia da política
monetária. Se o Banco Central tomar medidas macroprudenciais no sentido
certo, pode evitar que os juros aumentem para conter a inflação”,
explica.
Outra forma de impedir aumento de juros para conter a
inflação, destacam os especialistas, é o ajuste fiscal, com o
fortalecimento do superávit primário – economia para o pagamento dos
juros da dívida pública. Para os especialistas, o corte de gastos
públicos será inevitável por causa da necessidade de o próximo governo
recuperar a credibilidade nas contas públicas.
“A política fiscal
também terá de ser mais restritiva, com contenção dos gastos públicos
para segurar o déficit público e aliviar a alta ainda maior dos juros.
Quando a política monetária está associada à fiscal, a inflação cai.
Basta o governo conter gastos que não geram eficácia para a economia”,
diz Virene.
Além do corte de gastos, o ajuste fiscal pode ser
feito por meio do aumento de impostos, caso o próximo governo acabe com
desonerações concedidas nos últimos anos. “O ideal seria o próximo
presidente reduzir o número de ministérios e cortar despesas de custeio
[manutenção da máquina pública], mas o ajuste fiscal também pode vir do
outro lado, pela alta de impostos”, declara.
>> Confira a série Desafios do Brasil
Tanto
o ajuste fiscal quanto a contenção do crédito, ressaltam os
especialistas, são políticas recessivas, que devem manter o baixo
crescimento do Produto Interno Bruto (PIB, soma das riquezas produzidas
no país) em 2015. Para Salvato, o próximo governante terá de pensar em
ajustes estruturais para que o país possa crescer sem se preocupar com a
inflação.
“Hoje, o modelo econômico é baseado na demanda, com
estímulos ao consumo que não têm dado mais certo, mas o problema mais
relevante do Brasil hoje é o desaquecimento da oferta. Os empresários
precisam de garantias para que os investimentos tenham retorno futuro,
como redução dos gargalos da infraestrutura e redução da carga
tributária. Existe um programa de concessões de infraestrutura, mas os
efeitos são demorados”, diz o professor do Ibmec.
Blog em 18/09/2014
Wellton Máximo – Repórter da Agência Brasil
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